sábado, 31 de maio de 2008

Fichamento da Introdução do livro Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente autor Edward Said

Edward Said nasceu em Jerusalém no dia 1 de Novembro de 1935 e morreu em Nova Iorque no dia 25 de Setembro de 2003, foi um intelectual, crítico literário e ativista da causa palestina. Apaixonado pela música clássica, Edward fundou com o seu amigo israelita Daniel Barenboim em 1999 a West-Eastern Divan Orchestra, cujo objetivo é unir na mesma orquestra jovens músicos de Israel e dos países árabes.
Em 1978 Edward Said publicou a sua obra mais conhecida, Orientalismo, na qual analisava a visão ocidental do mundo "oriental", mais concretamente do mundo árabe. Ele argumentou que o Ocidente criou uma visão distorcida do Oriente como o "outro", numa tentativa de diferenciação que servia aos interesses do colonialismo. Na construção do argumento central do livro Said analisou uma série de discursos literários, políticos e culturais que iam desde textos das Cruzadas ou de Shakespeare, em que encontrou um denominador comum: a representação dos habitantes do mundo oriental como bárbaros.
Para o autor o Oriente é parte integrante da civilização e das culturas materiais da Europa, pois ao comparar a cultura européia com a cultura oriental transformou-a na cultura do outro que era subterrânea e clandestina. Ele começa sua análise demonstrando que o termo orientalismo está caindo em desuso, mas que apesar disso as formas de abordagem do Oriente Médio continuam pautadas por este termo, mesmo que ele não apareça. Para ele o orientalismo é um “estilo de pensamento baseado em uma distinção ontológica e epistemológica feita entre o Oriente e a maior parte do tempo o Ocidente.”1
Essa visão do Oriente é usada pelo Ocidente para dominar o outro território, reestruturá-lo ou ter autoridade sobre ele, já que é visto como inferior ou atrasado. O termo oriente é uma idéia que tem uma história e uma tradição de pensamento, imagística e vocabulário que lhe deram realidade e presença no e para o ocidente.
Para Wadie o orientalismo é mais particularmente válido como um sinal de poder europeu atlântico sobre o oriente, do que como um discurso verídico sobre o Oriente. Ele aborda Gramsci para afirmar que a cultura ocidental dominava e era transmitida para o oriente, como uma forma de hegemonia.
Houve no século XVIII vários escritos sobre o oriente, alguns com boa análise como o de Silvestre de Sacy ou de Edward William, mas há também alguns que investem em teorias de preconceito racial e pornográficas como os de Renan e Steven Marcus. O colonizador chegava ao oriente primeiro como um europeu ou americano, depois como indivíduo. Isso queria dizer que ele fazia parte de uma potência com interesses definidos no oriente e, mais importante, que ele pertencia a uma parte da terra com uma história definida de envolvimento no oriente quase desde os tempos de Homero.
O orientalismo é uma distribuição de consciência geopolítica em textos estéticos eruditos, econômicos sociológicos, históricos e filosóficos, é uma
elaboração não só de uma distinção geográfica básica, como também de toda uma série de interesses. O orientalismo não apenas se cria, mas também se mantém. Ele está diretamente ligado ao poder político e existe um intercâmbio com vários tipos de poderes, como o intelectual, científico e cultural. Ele define o mundo europeu através da austeridade, entre o deles e o nosso. Chama a atenção à coincidência entre o conteúdo do trabalho dos acadêmicos e a prática política dos governos da França e Inglaterra nas terras estudadas. Constata-se o modo nada inocente de como o orientalista percebia e classificava seu objeto. O orientalismo, como o define Said, é um “estilo de pensamento”, um modo de pensar o Oriente ,que ajudou a subordiná-lo através do conhecimento enviesado produzido sobre ele e que deu ao Ocidente o poder de ditar o que era significativo sobre “o outro”, classificá-lo junto com outros de sua espécie e colocá-lo “no seu lugar”.
Ao desvendar a construção do Oriente como uma entidade abstrata, Said destaca o caráter totalitário e essencialista desta construção. E de modo algum pretende construir um outro conceito de Oriente (nem muito menos um outro Ocidente), em substituição. Sua intenção é se insurgir contra esta forma de pensamento totalitário, que toma conjuntos humanos distintos, complexos, heterogêneos, formados por países, povos, e nações históricas individualizadas e procura lidar com eles na forma de uma totalidade homogênea. Para Said, não existe uma essência do Oriente assim como, também, não existe uma essência do Ocidente. Estas construções serviram para mascarar uma relação desigual que marcou historicamente o relacionamento entre alguns países da Europa “adiantada” com países da periferia do capitalismo.
A atualidade da análise de Said confirma a idéia de que o imperialismo não acabou, não se tornou “passado” com os processos de descolonização e a desmontagem dos impérios clássicos. Os vínculos entre antigas colônias e antigas metrópoles continuam a demandar atenção especial e o papel de superpotência desempenhado pelos Estados Unidos, hoje, mostra que, apesar do novo arranjo nas linhas de força, o imperialismo continua a ser o traço marcante das relações Norte-Sul. E essa situação mantém a necessidade ideológica de consolidar e justificar a dominação em termos culturais, como tem sido o caso desde pelo menos o século XIX. Segue-se que o papel primordial dos intelectuais dentro e fora das universidades, tanto do Norte quanto do Sul, é resistir a essa ideologia que disfarçada de “conhecimento” objetivo, deturpa para mais facilmente subordinar os povos que, nas palavras de Conrad retomadas por Said, “possuem uma compleição diferente ou um nariz um pouco mais achatado”.
O autor analisa os escritos de época dos autores literários mostrando que estava imbricado na cultura política imperialista. Todos eles estavam conscientes que faziam parte de um Império. Isso demonstra que o imperialismo tem influência na produção literária, erudição, teoria social e a escrita da história. Porém o orientalismo é algo dinâmico, um intercâmbio entre os autores individuais e os grandes interesses políticos moldados pelos três grandes impérios: Britânico, Americano, Francês.

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