sábado, 31 de maio de 2008

Explanação do livro o menino do pijama listrado

John Boyne nasceu em 30 de abril de 1971. Ele é um romancista irlandês e foi professor de língua inglesa no Trinity College. Foi também professor de literatura criativa na Universidade de East Anglia, onde foi premiado com o Curtis Brown. Já escreveu cinco romances e uma quantidade de contos que foram publicados em várias coletâneas e transmitidos por rádio e televisão. Seus romances foram publicados em 29 idiomas. O menino do pijama listrado é um mais vendido em Nova York e uma adaptação para o cinema começou a ser filmada em abril de 2007.
Este livro conta a história de um menino chamado Bruno que tem nove anos é alemão, mas não sabe nada sobre o Holocausto e a Solução Final contra os judeus. Também não faz idéia de que seu país está em guerra com boa parte da Europa, e muito menos de que sua família está envolvida no conflito. Por causa de seu pai que trabalhava para os nazistas Bruno foi obrigado a abandonar a espaçosa casa em que vivia em Berlim e mudar-se para uma região desolada, onde ele não tem ninguém para brincar nem nada para fazer. Quando chega lá, Bruno odeia o lugar e quer voltar imediatamente para Berlim.
Da janela do quarto, Bruno via uma cerca, na qual havia um terreno onde ficavam, centenas de pessoas de pijama. Depois de algum tempo, ele em uma de suas andanças pelas redondezas da cerca arranja um amigo chamado Shmuel, um garoto com pijama listrado, ou seja, um prisioneiro. Este menino curiosamente nasceu no mesmo dia que ele. Conforme a amizade dos dois se intensifica, Bruno vai aos poucos tentando elucidar o mistério que ronda as pessoas que vivem daquele lado da cerca.
Um dia Bruno quis passar pro outro lado, para conhecer o lugar onde morava seu amigo. Porém para tanto teve que vestir a mesma roupa que Shmuel. Quando ele passou para o outro lado, foi junto com os presos e seu amigo para um quarto escuro. Depois disso ninguém nunca mais soube de Bruno.
Em muitos sites da internet este livro é indicado como um bom início para um leigo no assunto Holocausto, porque não se atém aos campos de concentração nem narra explicitamente os sofrimentos dos prisioneiros. É conceituado como um livro emocionante e divertido, apesar de triste.
Entretanto, à medida que li o livro, fui tomada por uma sensação desagradável, pois como Bruno, um alemãozinho bem alimentado e educado, com nove anos de idade bem no meio da Segunda Guerra e filho de um oficial nazista de alta patente, não sabe realmente de nada que se passa ao seu redor, beirando a estupidez.
Além disso, como pode um garoto alemão de noves anos não saber pronunciar corretamente as palavras Der Führer e Auschwitz? Bruno diz o Fúria, e Haja-Vista, além de achar que Heill Hitler seja "uma outra forma de dizer ‘Bem, até logo, tenha uma boa tarde'". Quando se mudou para Auschwitz nem imagina que as pessoas do outro lado da cerca estão presas, chegando no livro a questionar porque elas usavam a mesma roupa, talvez para ele fosse uma questão de gosto e de moda. Outra pergunta posta por ele é porque todas estavam carecas, talvez segundo sua lógica por causa de uma infestação de piolhos.
No livro os maus tratos a judeus são tidos como “uma coisa muito feia” que os soldados faziam aos prisioneiros, quando um matou, eu acho que matou, pois no livro não ficou muito claro, um senhor que trabalhava na casa de Bruno ou como quedas de bicicleta no caso de Shmuel quando ele apanhou de um soldado. Outras questões como o que eram os judeus, ficam pouco claras no livro, sendo simplesmente relatadas como “o outro”.
John Boyne caracterizou pessimamente o personagem, sem falar nos encontros às escondidas entre Bruno e Shmuel, incontáveis vezes, sem que fossem descobertos uma única vez num campo de concentração como Auschwitz. E o final trágico onde eles simplesmente morrem, sua irmã chora sem para sua mãe beira a loucura e seu pai é morto pelo regime. Quer dizer fechando o livro como uma forma de punição aos pais por terem entrado no regime nazista, matando seu filho.
Apesar dessas distorções, o livro entretém, pois é escrito rigorosamente de acordo com os manuais de "Como prender a atenção do leitor" e isso ele consegue mesmo.

Fichamento da Introdução do livro Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente autor Edward Said

Edward Said nasceu em Jerusalém no dia 1 de Novembro de 1935 e morreu em Nova Iorque no dia 25 de Setembro de 2003, foi um intelectual, crítico literário e ativista da causa palestina. Apaixonado pela música clássica, Edward fundou com o seu amigo israelita Daniel Barenboim em 1999 a West-Eastern Divan Orchestra, cujo objetivo é unir na mesma orquestra jovens músicos de Israel e dos países árabes.
Em 1978 Edward Said publicou a sua obra mais conhecida, Orientalismo, na qual analisava a visão ocidental do mundo "oriental", mais concretamente do mundo árabe. Ele argumentou que o Ocidente criou uma visão distorcida do Oriente como o "outro", numa tentativa de diferenciação que servia aos interesses do colonialismo. Na construção do argumento central do livro Said analisou uma série de discursos literários, políticos e culturais que iam desde textos das Cruzadas ou de Shakespeare, em que encontrou um denominador comum: a representação dos habitantes do mundo oriental como bárbaros.
Para o autor o Oriente é parte integrante da civilização e das culturas materiais da Europa, pois ao comparar a cultura européia com a cultura oriental transformou-a na cultura do outro que era subterrânea e clandestina. Ele começa sua análise demonstrando que o termo orientalismo está caindo em desuso, mas que apesar disso as formas de abordagem do Oriente Médio continuam pautadas por este termo, mesmo que ele não apareça. Para ele o orientalismo é um “estilo de pensamento baseado em uma distinção ontológica e epistemológica feita entre o Oriente e a maior parte do tempo o Ocidente.”1
Essa visão do Oriente é usada pelo Ocidente para dominar o outro território, reestruturá-lo ou ter autoridade sobre ele, já que é visto como inferior ou atrasado. O termo oriente é uma idéia que tem uma história e uma tradição de pensamento, imagística e vocabulário que lhe deram realidade e presença no e para o ocidente.
Para Wadie o orientalismo é mais particularmente válido como um sinal de poder europeu atlântico sobre o oriente, do que como um discurso verídico sobre o Oriente. Ele aborda Gramsci para afirmar que a cultura ocidental dominava e era transmitida para o oriente, como uma forma de hegemonia.
Houve no século XVIII vários escritos sobre o oriente, alguns com boa análise como o de Silvestre de Sacy ou de Edward William, mas há também alguns que investem em teorias de preconceito racial e pornográficas como os de Renan e Steven Marcus. O colonizador chegava ao oriente primeiro como um europeu ou americano, depois como indivíduo. Isso queria dizer que ele fazia parte de uma potência com interesses definidos no oriente e, mais importante, que ele pertencia a uma parte da terra com uma história definida de envolvimento no oriente quase desde os tempos de Homero.
O orientalismo é uma distribuição de consciência geopolítica em textos estéticos eruditos, econômicos sociológicos, históricos e filosóficos, é uma
elaboração não só de uma distinção geográfica básica, como também de toda uma série de interesses. O orientalismo não apenas se cria, mas também se mantém. Ele está diretamente ligado ao poder político e existe um intercâmbio com vários tipos de poderes, como o intelectual, científico e cultural. Ele define o mundo europeu através da austeridade, entre o deles e o nosso. Chama a atenção à coincidência entre o conteúdo do trabalho dos acadêmicos e a prática política dos governos da França e Inglaterra nas terras estudadas. Constata-se o modo nada inocente de como o orientalista percebia e classificava seu objeto. O orientalismo, como o define Said, é um “estilo de pensamento”, um modo de pensar o Oriente ,que ajudou a subordiná-lo através do conhecimento enviesado produzido sobre ele e que deu ao Ocidente o poder de ditar o que era significativo sobre “o outro”, classificá-lo junto com outros de sua espécie e colocá-lo “no seu lugar”.
Ao desvendar a construção do Oriente como uma entidade abstrata, Said destaca o caráter totalitário e essencialista desta construção. E de modo algum pretende construir um outro conceito de Oriente (nem muito menos um outro Ocidente), em substituição. Sua intenção é se insurgir contra esta forma de pensamento totalitário, que toma conjuntos humanos distintos, complexos, heterogêneos, formados por países, povos, e nações históricas individualizadas e procura lidar com eles na forma de uma totalidade homogênea. Para Said, não existe uma essência do Oriente assim como, também, não existe uma essência do Ocidente. Estas construções serviram para mascarar uma relação desigual que marcou historicamente o relacionamento entre alguns países da Europa “adiantada” com países da periferia do capitalismo.
A atualidade da análise de Said confirma a idéia de que o imperialismo não acabou, não se tornou “passado” com os processos de descolonização e a desmontagem dos impérios clássicos. Os vínculos entre antigas colônias e antigas metrópoles continuam a demandar atenção especial e o papel de superpotência desempenhado pelos Estados Unidos, hoje, mostra que, apesar do novo arranjo nas linhas de força, o imperialismo continua a ser o traço marcante das relações Norte-Sul. E essa situação mantém a necessidade ideológica de consolidar e justificar a dominação em termos culturais, como tem sido o caso desde pelo menos o século XIX. Segue-se que o papel primordial dos intelectuais dentro e fora das universidades, tanto do Norte quanto do Sul, é resistir a essa ideologia que disfarçada de “conhecimento” objetivo, deturpa para mais facilmente subordinar os povos que, nas palavras de Conrad retomadas por Said, “possuem uma compleição diferente ou um nariz um pouco mais achatado”.
O autor analisa os escritos de época dos autores literários mostrando que estava imbricado na cultura política imperialista. Todos eles estavam conscientes que faziam parte de um Império. Isso demonstra que o imperialismo tem influência na produção literária, erudição, teoria social e a escrita da história. Porém o orientalismo é algo dinâmico, um intercâmbio entre os autores individuais e os grandes interesses políticos moldados pelos três grandes impérios: Britânico, Americano, Francês.

Fichamento do capitulo IV, V e VI do livro a Era dos Impérios 1875-1914

Nesses capítulos Hobsbawm focara sua análise em dois temas centrais: o processo de democratização das nações européias e a formação do movimento operário. Para ele esse processo de democratização é que deu consciência ao movimento operário, posteriormente transformando-o em uma classe operaria de influência nacional. Outro tema abordado principalmente no sexto capítulo é que a partir dessa dinâmica, se conjuntura o nacionalismo no período pré-guerra mundial.
No quarto capítulo Hobsbawm trata da formação, ação e efeitos da Comuna de Paris. Para ele a Comuna de Paris foi um movimento de administração popular organizado pelas massas parisienses. Este movimento teve diversas influências ideológicas e provocou medo, instabilidade política e econômica a nível nacional. Porém por causa de sua lógica grevista e revolucionaria, foi duramente sufocado, mas não sem antes conseguir concessões fazendo com que se tornasse uma referência histórica. A partir desse movimento Hobsbawm demonstra como que a democratização foi uma conquista popular, bem como o comportamento e posicionamento da elite em vista desse assunto.
Para Hobsbawm não podemos considerar a Comuna como uma revolução socialista, ela era um movimento preocupado em mudar algumas perspectivas sociais, porém não a lógica social como um todo. Uma das reivindicações propostas pela Comuna foi o direito ao voto por parte das massas. Apesar de se considerarem democráticos a política Inglesa foi de enfraquecimento das assembléias que o povo elegia candidato, já no caso alemão havia diversas exigências excludentes que impediam o acesso ao voto.
Em outros paises havia fraudes no registro eleitoral, exigência de determinada renda ou posse, voto de cabresto, etc. Isso levou a formação de levantes de protestos, descontentes com a situação criada e conflito contra as camadas conservadoras. Desenvolveram-se os partidos de massa por toda a Europa, originou-se a imprensa popular que contribuiu em larga escala para a expansão dos movimentos de protesto.
As reivindicações, todavia não eram comuns a todos. Hobsbawm aponta as dificuldades encontradas pelos trabalhadores, sobretudo os operários, em formularem uma pauta, suficientemente forte para despertar o interesse dos mais variados tipos de necessitado, dos quais a participação havia se tornado condição para a própria sobrevivência dos movimentos opositores.
No capítulo V o autor analisa os problemas enfrentados pela classe operária para o fortalecimento de seus projetos e reivindicações demonstrando que estes mudaram ao longo do tempo. Primeiramente ele aborda a mudança sofrida no discurso dos operários, que passam a ser considerados discurso para todos os trabalhadores, demonstrado, no entanto que esta mudança se deu de maneira gradual. Outra mudança é que o movimento passa a abranger os trabalhadores rurais, ate então impensado quanto autores sociais.
Dentro do movimento operário, se especificam duas correntes que passam a ser concorrentes entre si com projetos diversos. Uma delas é o socialismo que pregava uma revolução contra as classes dominantes, mas também cresce o movimento anarquistas que queria reivindicações mais concretas.
O problema da pluralidade das classes de trabalhadores manuais foi resolvido pela via ideológica, o ideal mesmo sendo proletário por natureza, podia ser facilmente adaptado pelo camponês, quanto às camadas intermediárias, estas sim consistiam em sério problema aos partidos de massa. A direita aproveitando-se desse dilema formula estratégias para trazerem este seguimento social para o seu lado.
O esquema construído pela direita, e principalmente pela extrema direita, foi à construção dos ideais nacionalistas. Isso é discutido por Hobsbawm no capitulo VI. Os apelos nacionais e o simbolismo desenvolvido em torno deste projeto representavam à ação do estado no apaziguamento das tensões sociais. Novamente o governo se utilizara de mecanismos que objetivavam a manipulação as massas e a manutenção de sua ordem social.
O nacionalismo propagado até meados da primeira guerra mundial, possui como maior público alvo evidentemente as massas, as dissidentes e as intermediárias, o culto a bandeira, ao povo, a língua e a necessidade de se defender o país de ameaças iminentes serviram de pilares aos quais se sustentaram à unidade nacional e a contenção de possíveis conflitos internos. A educação desempenhou papel fundamental neste projeto, por meio da mesma objetivou-se um esforço em prol de uma língua oficial, além de despontar como um eficiente serviço de propaganda governamental em larga escala.
O número de professores primários elevou-se em diversas nações européias. A organização em torno do nacionalismo rapidamente atingiu os movimentos operários que mais uma vez testemunhavam à necessidade de um projeto amplo e também a nível nacional. Contudo a propaganda nacionalista fora efetuada de modo quase perfeito. Esse movimento conseguiu elevado número de adeptos, inclusive nas classes populares. A xenofobia, culpar o estrangeiro pelas condições sociais vividas também teve voz desviando as lutas sociais da esfera de luta de classe para a esfera de luta contra o outro. Esse movimento levou ao desencadeamento da primeira guerra mundial, que mais do que nações imperialistas lutando encontravam-se ali indivíduos lutando por sua pátria, sua casa.

Fichamento do 12o capítulo do livro A Grande transformação: As origens da nossa época autor Karl Polanyi

Karl Paul Polanyi nasceu em Viena, Áustria em 1886 e morreu em Pickering, Ontário em 1964. Foi um filósofo, economista e antropólogo húngaro, conhecido por sua oposição ao pensamento econômico tradicional, basicamente expressa em seu livro A Grande Transformação.
Neste capítulo ele começa descrevendo como foi estruturado o liberalismo, tornando-se o princípio organizador de uma sociedade estruturada a partir de um sistema de mercado. Neste texto o autor usa uma forma irônica de apresentar o liberalismo, transformando-o num credo, e seus seguidores como religiosos, assim como os evangélicos.
Em 1820 o liberalismo econômico se pautava por três tendências: O mercado deveria regular o preço do trabalho, a automatização financeira e a livre circulação de mercadorias, sem empecilhos. No século XVIII apesar de se falar em liberalismo econômico, não se pensava em mercados auto-reguláveis.
Na Inglaterra neste mesmo período o liberalismo econômico só foi aplicado para a produção, mas o comércio continuava protegido. Os trabalhadores foram atingidos por esta nova política tendo seus empregos ameaçados, os salários baixavam e as demissões aumentavam deixando famílias nas mãos do Estado para sustentar e uma imensa mão de obra reserva. Esse sustento que o estado dava acabou em 1832 quando a lei Poor Law Amendement, pois fim a estes gastos.
Houve um aumento geral do custo de vida, diminuição do cambio no exterior e manutenção do padrão ouro. Houve crise na agricultura inglesa, pois esta começa a importar produtos agrícolas, abrindo mão de sua própria agricultura, em prol de uma indústria e da marinha, pois o liberalismo tinha uma visão de inclusão global, separando o planeta em áreas de produção específica.
Os três dogmas do liberalismo tinham que ser mantidos todo custo, pois o próprio sistema na visão dos liberais não podia funcionar se não houvesse uma manutenção dos seus três pilares em concordância.
Não podemos perder de vista, contudo que o liberalismo não era algo natural da economia como os que defendiam esta prática postulavam. O próprio liberalismo foi imposto pelo Estado que teve que afastar as leis protecionistas. Além disso, as indústrias foram criadas por subsídios estatais e com tarifas protetoras. Isso demonstra que o liberalismo era um projeto que deveria ser atingido, não um meio para atingir um projeto. Cresce a administração governamental com intuito do utilitarismo do governo pra manter o livre comércio. Apesar disso os liberais continuavam criticando as políticas protecionistas.
Nos anos 30 há uma mudança, as grandes potências (EUA e Grã Bretanha) começam a alterar os pilares do liberalismo. Uma dessas mudanças foi o abandono do padrão ouro em nome das moedas de seus próprios paises, para isso forçaram outras nações a se adaptarem como, por exemplo, a França.
Pra os liberais o fracasso do liberalismo foi causado pela incapacidade da massa popular de ser manter firme a este pensamento mesmo isto querendo dizer perda de grande parte de seus direitos. Porém a história mostra que os próprios defensores do liberalismo na época lutavam contra o liberalismo se isso ameaçasse seus interesses, por isso o liberalismo não deu certo não por causa de suas forças contrarias, mas por causa de sua própria crença.

Fichamento do texto O colonialismo como a glória do império autor Edgar de Decca

Edgar de Decca é pesquisador Nível 1A do CNPq, concluiu o doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo em 1979. Atualmente é professor Titular da Universidade Estadual de Campinas e Pró-Reitor de Graduação no período de 2005 a 2009. Também é membro do conselho consultivo da revista Estudos Históricos da Fundação Getúlio Vargas - RJ, membro do conselho editorial da revista de História da Universidade Estadual de Maringá, membro do conselho editorial da revista de História da Universidade Federal de Santa Catarina, membro do conselho consultivo de revista de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa e membro do conselho editorial da revista de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atua na área de História, com ênfase em História do Brasil República, porém tem trabalhos publicados nas áreas de história, historiografia, literatura, classe operaria, memória histórica, historia do Brasil, teoria e filosofia da historia e memória.
Em seu texto “O colonialismo como a glória do Império” ele começa abordando a comemoração do jubileu da Rainha Vitória em 1897. A Europa nesta época vivia em relativo clima de paz desde o fim das guerras napoleônicas. Havia alguns conflitos na África, mas as atividades capitalistas estavam prosperando, apesar dos constantes protestos trabalhistas por melhores condições de vida e de trabalho. As festividades para a rainha incluíam ministros e militares de todas as partes de suas colônias.
A Inglaterra se autogloriava com o aumento de seus territórios, mas esta expansão territorial também foi visível em outros paises europeus como a França, a Alemanha e a Itália. Esse processo de ampliação territorial era pautado por uma necessidade de ampliação de mercados das economias capitalistas industriais e por obtenção de matéria prima.
Uma particularidade importante é que esta expansão européia se deu nos continentes africanos e asiáticos, por causa, em parte, da doutrina Monroe que defendia a América para os americanos, ou seja, a defesa deste território para os Estados Unidos.
De acordo com o autor os indivíduos que viviam nas colônias, vindos dos estados expansionistas gozavam de uma liberdade de ação e decisão que nenhum segmento ou grupo que vivia no interior desses estados e nações européias possuía. Os ingleses nunca enxergaram os povos que estavam sob sua dominação como sendo iguais ou tendo os mesmos direitos.
O aparato jurídico, administrativo e militar dessas localidades era diferente do aparato das nações européias. A expansão só pode consolidar-se através do domínio militar, no entanto nem sempre o poderio militar era necessário para dominar um país, algumas vezes utilizava-se a dominação econômica, como no caso do Brasil, onde a economia cafeeira foi decorrência dos empréstimos estrangeiros, seja para melhorar a produção, ou para construírem-se estradas de ferro, melhorar os portos, os serviços urbanos, etc.
Neste período também houve o crescimento das cidades européias, devido as melhorias das condições de vida, seja em termos dos avanços científicos ou da medicina. Criaram-se as lojas de departamentos, a exposição de mercadorias nas vitrines, tudo possível graças a produção em massa, tornando os estoques e as vendas coisa rotineira. Vale ressaltar que as vitrines mudavam constantemente atraindo mais e mais consumidores com amostra variada de novos produtos que eram lançados no mercado. Em contrapartida existia também muita pobreza nestas cidades, principalmente de pessoas que vinham procurar trabalho, mas acabavam não encontrando e ficando na miséria. O tempo de lazer nas cidades aumentava. As pessoas podiam se dedicar a diversões e ao consumo, diferente do campo onde o indivíduo quase ficava totalmente preso a atividade administrativa e ao cultivo da terra. Assim aumentou o número de teatros, circos, parques, panoramas (antigos cinemas), centros esportivos, etc. Até para as classes operarias aumentou o número de pubs, espaços prediletos por estes trabalhadores.
Foram realizadas grandes construções para serem símbolos da modernidade e demonstração do poderio capitalista daquela localidade. Foi assim criada a Torre Eiffel em Paris, a Estátua da Liberdade, o Palácio de Cristal na Inglaterra, etc. Aconteciam também exposições universais das indústrias, prática que se mantém até hoje, para mostrar os novos aparatos tecnológicos.
Nasce também um novo personagem o turista. As pessoas, com o avanço das estradas de ferro e da navegação podiam se deslocar mais facilmente para outras localidades e a partir dai cresce a indústria do turismo, que vende viagens sensacionais e milaborantes para encantar os sonhos de seus consumidores. O autor cita a história do Titanic que era o sonho tão maravilhoso de grandeza e modernidade, símbolo de uma sociedade, levando inclusive sua divisão social, parecendo indestrutível aos olhos de todos, mas que acabou em tragédia.
Esse novo modo de encarar a vida e o mundo abre portas também para novas perspectivas e abordagens da mente humana. Agora este homem está coberto de neuroses e desejos que podem muitas vezes ser atingidos e alcançados, mas a custa da sociedade.
Crescem biografias de aventuras, com heróis fictícios ou reais como no caso de Lawrence da Arábia, Indiana Jones, James Bond, etc. Nascem também obras que criticam a dominação por parte do colonizador, como “A passagem para índia, A Fazenda Africana e Meus dias na britânia”. As viagens e os relatos dos romances traziam respostas sobre aquelas sociedades encontradas na expansão Imperialista.
O movimento socialista inserido nesta dimensão capitalista, toma para si o mesmo empreendimentos expansionistas, visando a partir da Intentona se tornar internacional. A maioria dos representantes de partidos era européia, mas havia também dos EUA Índia e Japão, demonstrando que o socialismo já abarcava estas sociedades. Foi escolhido a comemoração do 1o de maio, um hino oficial e uma bandeira para o partido.
Nas intentonas foi também discutido o caminho para se chegar ao socialismo. Algumas facções achavam que teriam que lutar para transformar a sociedade, mas outras achavam que o capitalismo entraria em colapso, por isso as mudanças podiam ser feitas na própria sociedade burguesa. Outro ponto de discórdia foi em relação as idéias anarquistas, fazendo com que este movimento se afastasse da Intentona. Outra questão trazida a debate na Intentona foi a inevitabilidade histórica do socialismo descrita por Bernstein. Muitos foram seus opositores achando que ele tinha traído Marx, porém isso quase gerou um racha no partido. O socialismo e o anarquismo tentaram impedir a Primeira Guerra Mundial com campanhas pacifistas, mas nada adiantou e a guerra foi declarada.

terça-feira, 15 de abril de 2008

sites interessantes

Oi pessoal eu passeando pelas imagens do cade achei alguns sites interessantes que repasso para vocês
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1456891,00.html
traz uma cronologia da segunda guerra, o que pode ser bem util.

http://www.icsi.berkeley.edu/~chema/republica/exilio.es.html
traz fotos sobre os exilados na Espanha

http://www.telefonica.net/web2/sgm/juno.html
traz fotos da segunda guerra

http://www2.udec.cl/~angcastr/hisfoto.htm
É um arquivo gráfico sobre a segunda guerra mundial

http://www.forosegundaguerra.com/viewtopic.php?p=29896f
É um fórum sobre a segunda guerra mundial

http://arcade.ya.com/elitea/imagenes.htm
são imagens da segunda guerra

http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/node/683
não tem haver com nosso curso mas é um site formado por doutores em história sobre a Inquisição, eu achei interessante

terça-feira, 8 de abril de 2008

Fichamento do Livro: A Era dos Impérios 1875-1914 Capítulo 1

Eric Hobsbawm nasceu em 1917 em Alexandria, no Egito, e fez seus estudos em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. È membro da British Academy e da American Academy of Arts and Sciences, professor visitante em diversas universidades da Europa e da América. Lecionou até aposentar-se no Birkbeck College, da Universidade de Londres. Desde então ensina na New School for Social Research, em Nova York. Ele é um historiador de tradição marxista e um de seus interesses é o desenvolvimento das tradições. Seu trabalho é um estudo da construção destas tradições no contexto da Nação-Estado. Ele argumenta que muitas vezes estas são inventadas por elites nacionais para justificar a existência e importância de suas respectivas nações.
Neste livro ele analisa quais são as transformações mais evidentes do capitalismo no decorrer dos cem anos da Revolução Francesa, contudo afirma que a prática da comemoração dos centenários foram inventados no fim do século XIX.
A hipótese defendida por ele é que o mundo passou a ser genuinamente global e a maneira de se avaliar as conquistas não são mais sob a forma de descoberta dos territórios. Para exemplificar sua hipótese Hobsbawm cita as seguintes inovações: no transporte como a ferrovia e a navegação a vapor, que diminuem as distâncias nas viagens intercontinentais ou transcontinentais; nas comunicações como o telégrafo elétrico fazendo circular as informações mais rapidamente.
Uma outra mudança é na questão demográfica, levando em conta que a população aumentou consideravelmente. Um dos fatores para esta mudança foi a emigração para outros continentes como, por exemplo, o americano, fazendo com que as populações locais desses continentes mais que triplicassem. Porém no continente africano a população quase não cresceu, e em algumas regiões houve inclusive queda populacional. Isso se devia a constante retirada da população dessas regiões em forma de tráfico.
Outra questão colocada pelo autor é o contraponto da globalização na medida em que, embora o mundo parecesse menor, estava mais dividido, principalmente na concepção econômica e industrial, aumentando as diferenças entre os paises mais ricos e os mais pobres. Para ele no século XVIII as diferenças entre as regiões do planeta não pareciam invencíveis, pois a produção de riqueza e a cultura muito se assemelhavam. O que mudou no século XIX foi a Revolução Industrial que gerou uma defasagem econômica sem precedentes na história.
Para Hobsbawm o que a Revolução Industrial traz de novo é a tecnologia que não só melhora a situação econômica dos paises, mas a política, uma vez que com tecnologia os armamentos ficam mais sofisticados fazendo com que os paises mais atrasados sejam conquistados mais rapidamente.
Para o autor no século XIX a Europa era o norte da civilização e a matriz cultural do mundo, por causa muito mais da Revolução Industrial do que da Revolução Francesa. Um exemplo citado é o de que sem a Revolução Industrial os europeus não conseguiriam conquistar a Ásia, além disso, em termos propriamente culturais os automóveis, o cinema e o rádio foram desenvolvidos primeiramente na Europa.
O que Hobsbawm define como Europa não é uma região demarcada que conhecemos hoje, mas uma extrapolação dessa região para a América do Norte e a Ásia Central que tinham sido atingidas pelo capitalismo, como os EUA. Contudo analisa que muito mais do que uma questão econômica havia também a questão cultural, pois muitas regiões da Europa como Portugal não se encontravam bem economicamente, mas não estavam de forma alguma ultrajadas, pois faziam parte de um cerne europeu. A Rússia, por exemplo, fazia parte da cultura européia, não por sua população, mas pela forma de governo tipicamente europeu.
A dinâmica do processo industrial cria a dependência dos paises mais atrasados, bem como a decadência destes, uma vez que não conseguiam competir com os produtos dos paises mais desenvolvidos, o que gera uma pobreza em massa. As teorias racistas se proliferavam nestes paises que, de acordo com cientistas, tinham que sofrer um embranquecimento da raça para então conseguir chegar ao nível dos paises desenvolvidos.
Nos paises desenvolvidos por causa da proletarização dos trabalhadores começam a aparecer os partidos com interesse de classe. Essa “esquerda”, denominação tirada da Revolução Francesa, defendia não só melhores condições de vida para os trabalhadores, mas acesso a cultura e a vida intelectual.
Uma outra observação sobre os cem anos da Revolução Francesa é que apesar de ter crescido o número de cidades, centros urbanos, o mundo desenvolvido continuava agrícola, porém essa agricultura aumentava consideravelmente sua produtividade, competindo com a dos paises atrasados.
Uma indústria que chegou rapidamente nos paises atrasados foi a metalurgia, que era tão avançada quanto nos paises desenvolvidos. Porém a mudança foi um processo muito rápido e os centros urbanos cresceram cada vez mais até chegar à dicotomia cidade/campo. O modelo de governo que se espalhou, contudo não foi o centralista francês, mas o federalista americano.
Este modelo federalista excluía grande parte da população como aborígines e mulheres, no entanto os indivíduos eram livres e iguais, não mais servos, o que se traduzia em meios jurídicos, não econômicos. Uma outra característica que se espalhou foi a questão educacional, nos paises desenvolvidos houve uma democratização do ensino, o que não ocorreu nos paises desenvolvidos.
A Industrialização apesar de tudo trouxe uma melhoria nas condições de vida das pessoas, pelo menos no que se refere aos paises desenvolvidos, um exemplo disso é o aumento da estatura humana por causa da nova dieta alimentar. A loja de departamentos ajudou sobremaneira as pessoas dos paises menos desenvolvidos devido ao preço mais baixo cobrado.
Os paises atrasados tentavam imitar o progresso dos paises desenvolvidos. A cultura burguesa se espalhou muito mais rápido do que o desenvolvimento.

terça-feira, 1 de abril de 2008

A Inserção do pensamento de Marx e Descartes no advento da sociedade moderna

No período medieval, tudo era considerado espiritual, usava-se Deus para explicar todos os acontecimentos. A Igreja mantinha a coesão social, o Papa era infalível, a pobreza era vontade de Deus, bem como a ordem social. O ceticismo a este pensamento começa na Renascença. Há uma mudança de paradigma no século XVI, no período da modernidade. Esta modernidade se articula no discurso do capital e da ciência. Nos séculos XVI/XVII há o “silencio de Deus”, ou seja, a sociedade não se remete mais a Deus como uma explicação. O ser humano volta-se para a natureza humana, que em decorrência disso passa, a partir desse momento, a ser estudada.
A razão vai ocupar o lugar que até então era ocupado por Deus. Ela se transforma num princípio unificador e se aplica a todos os domínios da natureza e do mundo, inclusive o político e religioso. Assim a razão passa a ser um paradigma, uma força política. Os homens buscam a verdade na linguagem e na escrita humana, não mais na revelação divina. O pensamento reformista coloca em xeque a autoridade e os critérios de produção da verdade. As mudanças se expandem na filosofia e na ciência.
Marx faz uma ruptura com o pensamento vigente no século XIX permitindo uma nova forma de pensar o sistema capitalista de produção, mostrando como ele se constituiu. A acumulação primitiva de capital é anterior ao capitalismo, ela é um pressuposto ético, não uma diretriz econômica. O capitalismo surge com a Revolução Industrial e esta, por sua vez, pressupõe a ciência afastada da religião.
A modernidade permite a criação de uma sociedade laica, onde ocorre a separação entre a fé e a razão e esta separação só acontece com a mudança do pensamento e o advento do questionamento e do individualismo. Por isso a modernidade se identifica com o capitalismo.
Os costumes, a história de um povo, a tradição cultural, anteriormente, influenciavam a forma como as pessoas pensavam, o que acreditavam. Estes costumes e tradições começam a ser postos em xeque no advento da modernidade.
Descarte se insere nesta lógica quando propõe que Deus não é mais a certeza básica. Ele é necessário só para mostrar a existência do mundo além do próprio sujeito. Deus é a necessidade epistemológica e não mais a estrutura ontológica do mundo.
Descartes viveu numa época marcada pelas guerras religiosas entre protestantes e católicos na Europa. Ele viajou muito e viu que sociedades diferentes têm crenças diferentes, mesmo contraditórias. Aquilo que numa região é tido por verdadeiro, é achado como ridículo, disparatado, mentira, em outros lugares.
Nesse caminhar, cada vez mais a ciência se afirma. A questão do mundo, em última análise, não é mais questão da filosofia, mas da própria ciência.
Descarte questiona o pensamento dualista (verdadeiro/falso). Para tanto sugere questionar o próprio conhecimento, método este que qualquer ciência pode utilizar. Na verdade ele quer achar um ponto de certeza no meio da dúvida. Para tanto parte do mais simples (eu sou corpo) para chegar ao mais complexo (eu sou uma coisa que pensa). È através do raciocino lógico que ele chega às certezas. Ele vê o homem como uma unidade em si.
Através desse raciocínio Descarte corrobora a teoria de que a prova da existência das coisas materiais é que elas podem ser reduzidas a códigos matemáticos, diferindo do pensamento medieval onde elas existiam, pois, Deus havia criado ou porque a Igreja dizia que existiam. Ele não questiona a criação de Deus, admite que Deus criou, mas se afastou deixando a natureza se guiar por ela mesma. Essa existência pode ser comprovada através dos códigos matemáticos.
A nova forma de organização da sociedade gera, de acordo com Descarte, um estranhamento do seu próprio “eu” levando esta sociedade a não saber mais com certeza realmente o que é e, situando-se como um ser pensante inserido neste novo contexto, onde a meta é produzir para acumular mais e mais capital.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Fichamento do livro: O século XX Volume I: O Tempo das Certezas da Formação do Capitalismo à Primeira Grande Guerra.

Francisco José Calazans Falcon é professor titular de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense. Ele escreveu este livro por volta do ano 2000.
Uma hipótese defendida pelo autor é a de que não estamos no fim da história do capitalismo, este não apresenta uma tendência á autodestruição, como foi abordada por Schumpeter, baseando-se na visão marxista.
O autor começa analisando os conceitos que estão presentes na visão capitalista, como por exemplo, o de mercado. Primeiramente ele diferencia o mercado em que as pessoas fazem compras do mercado como “campo de atividades, mais ou menos institucionais, distribuídas por variados tempos e/ou lugares, segundo objetivos e regras aceitos por todos aqueles que delas participam.”
Segundo ele a novidade que o capitalismo cria na noção de mercado é a auto-suficiência do mercado, ou seja, ele funciona independente da atuação e intenção dos indivíduos que dele participam. Essa é a concepção clássica de mercado. O autor cita A. Smith, pois este “atribui o funcionamento perfeito e imprescindível do mercado que lembra o mecanismo de um relógio, à mão invisível da providência”. Porém ressalta que há críticas a esta visão de mercado.
O comercio é a troca real das mercadorias por outras, possibilitado pela moeda, meio que permite estas trocas. Uma das funções do mercado seria regulamentar a oferta e a demanda dos produtos. Ele é um sistema de dimensões alteráveis que contém todos os mercados concretos.
Falcon critica a visão de que já existiria capitalismo ou mercado mundial capitalista no século XVI. O que realmente existia nesta época era o modo de produção capitalista como “produção visando lucro num mercado ou ainda a busca e a realização do lucro através da comercialização de mercadorias”.
Ele aborda duas interpretações possíveis para o período:
1) Tratar as disputas dos estados modernos como disputas que marcadamente visavam o lucro mercante e financeiro, como por exemplo, nos antigos sistemas coloniais. Os séculos que antecederam a Revolução Industrial são tratados como pré-capitalistas e tem uma acumulação primitiva de capital.
2) Tratar a história marcada pela produção capitalista, por modos de produção específicos, fazendo com que esta seja uma totalidade.

O autor divide sua análise em duas partes: a época pré-capitalista (séculos XV/XVI ao XVIII) e a época capitalista (XIX e XX). A época pré-capitalista se define pela predominância da agricultura, pois 80% da população vive em zona rural e a produção de bens agrícolas supera a industrial; pela precariedade do transporte que são caros e não atendem devidamente a demanda, pois são mal conservados e perigosos; pela indústria de bens de consumo, como vestuários. Este período é marcado por crise agrícola que resulta em peste e fome, porém esta crise era, segundo o autor, em sua maioria regional.
A etapa capitalista é marcada pelo predomínio da produção industrial, os transportes são cada vez mais rápidos e eficientes, tornando o mundo cada vez menor e especializado. As crises são de baixa ou de alta produção. As novas crises capitalistas têm demarcações periódicas e são assinaladas por períodos de prosperidade e depressão.
O autor argumenta que a constituição do mercado internacional envolve não só a economia, mas também a política, e a cultura que se articulam na expansão européia.
Outro conceito definido pelo autor é o termo Europa, que ele mostra ser historicamente definido. Na Idade Média o termo Europa definia os homens que seguiam o cristianismo mais especificamente que eram regidos pela Igreja Católica Romana. Com o Grande Cisma do Ocidente, os cristão gregos não eram chamados de europeus a não ser a partir das Cruzadas e da guerra de reconquista. No Ocidente o europeu se diferenciava dos muçulmanos, mas apesar da discriminação de ambos os lados, havia intensa troca comercial e cultural. Os turcos eram pouco conhecidos pelos ocidentais, por isso para o autor, eram mais propícios para a criação de mitos e lendas. Neste ponto ele ressalta a idéia de que estudamos mais a história focando a Europa do que a de nossos próprios paises.
A respeito do Império Bizantino, Falcon destaca que “a dissolução do império do Majopahit, hinduísta, no arquipélago que viria a ser a Indonésia atual, criou vários outros centros de poder rivais em termos políticos e religiosos.”
O autor enfatiza também que não havia só os reinos ou estados europeus, mas que no século XVI também estavam presentes pelo menos três grandes impérios, o chinês, o indiano e o turco, entre outras regiões importantes. Em face dessa situação a Europa ou economia do mundo européia era extremamente restrita a uma pequena área. Porém a expansão do domínio europeu levou a conquista do mercado internacional.
O termo expansão européia está, de acordo com o autor, datado pela historiografia do século XIX até metade do século XX e representava relatos de viagens e conquistas dos europeus para fora dos seus paises de origem. Está historiografia que caracteriza os habitantes como pacíficos em relação as conquistas, começa a cair em desuso principalmente depois do processo de descolonização. Termos como colônia de povoamento e exploração também passam a ser questionados, pois os circuitos mercantis regionais como, por exemplo, na África ganham importância.
A seguir o autor passa a analisar a construção dos estados modernos, mostrando a centralização por parte de príncipes e reis e o domínio sobre os senhores de terras. Aponta também a diferença na estrutura econômica que não deixando de privilegiar a aristocracia passa a dar também importância à
parte da burguesia. As conquistas territoriais envolvem tanto os burgueses como a aristocracia e a própria Igreja.
Falcon destaca que o próprio termo antigo regime foi formulado pela Revolução Francesa que queria se posicionar perante estas formas de governo, demonstrando que hoje em dia fala-se em sociedade de corte. Por conseguinte a Revolução Francesa traz prerrogativas como a liberdade individual e a idéia de nacionalismo, prerrogativas estas que estendem-se para grande parte das outras sociedades.
As viagens de cunho exploratório ou mercantil são antecedentes de uma revolução econômica ocorrida no período da Idade Média, que faz renascer as cidade. Nos séculos XV/XVI a século XVIII a história do capitalismo comercial se destacou em dois grandes circuitos: o intra-europeu e o extra-europeu. “O desenvolvimento de cada um desses circuitos obedeceu a fatores e circunstâncias mais ou menos específicos, ligados a características próprias de suas formas de inserção no mercado internacional e também as variações conjunturais.” A expansão se dividiu em dois modelos, primeiro o Português, depois o espanhol; em seguida outras nações européias se dedicaram à conquista de colônias. Com o passar dos séculos as expedições se transformaram em expedições científicas ou filosóficas.
A Revolução Industrial Inglesa marca uma nova conjuntura mundial que o autor divide em duas partes: a primeira que vai do final do século XVIII a 1870, a era do capitalismo industrial e a segunda que vai de 1870 a 1914, a era do capitalismo imperialista. Na primeira fase se constrói a oposição cidade/campo, moderno/arcaico. Nasce também o conceito de história como mestra da vida. Luta-se pela liberdade, do aspecto econômico, político e social.
Na segunda parte há uma acirração do processo de expansão que não só ocorre em forma de conquista territorial, mas também num refinamento deste processo, o qual o autor se dedica a analisar, chamando a atenção para as Américas que frequentemente são esquecidas neste período, mas que sofreram com o processo de dominação imperialista.

terça-feira, 25 de março de 2008

Fichamento da introdução do livro Tudo que é Sólido Desmancha no Ar: A Aventura da Modernidade

Marshall Berman nasceu em 1940. Ele é atualmente professor distinto de ciência política na The City College of New York e professor de graduação no Center of the City University of New York, no qual ensina filosofia política e urbanismo. Os seus trabalhos seguem uma tradição humanista, marxista e filosófica,além disso discute tendências históricas com observações pessoais.
Por volta dos anos 90 escreveu este livro. A hipótese principal defendida é que a modernidade é algo em constante mutação e contradição. De acordo com sua argumentação ser moderno, é estar em constante desintegração e renovação perpétua, dificuldade e angústia, ambigüidade e contradição. Para ele “ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promove aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor, mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos.”
Neste trabalho ele critica a hipótese de pós modernidade e a visão foucaultiana na qual enclausura a modernidade para enaltecer o presente, pois vêem a “modernidade com variações torturantes em torno dos temas weberianos do cárcere de ferro e das inutilidades humanas, cujas almas foram moldadas para se adaptar as barras”. Neste trabalho ele também pretendeu explorar e mapear as tradições que surgiram na modernidade mostrando seu dinamismo e suas contradições.
O autor apresenta a problemática ponderando que podemos estudar a modernidade ou a vida moderna a partir de diversas fontes, como os avanços científicos que abrem espaço para discutirmos nossa atuação na Terra e no próprio universo; a industrialização que ao transformar tudo em tecnologia e em mercadoria, muda a maneira do homem encarar a sua própria vida e a do outro; as novas concentrações demográficas que tiraram as pessoas da vida campestre aglomerando-as na cidade, o que altera os meios de comunicação e a própria vida social; pelos estados nacionais, que lutavam politicamente e militarmente para expandir seus domínios e manter sua soberania e sua individualidade enquanto nação. Enfim podemos dizer que há diversos olhares que nos levam a compreender a modernidade.
Ele divide a modernidade em três fases:
1a fase - vai do início do século XVI até o fim do século XVIII. Neste período a modernidade estaria nascendo, ganhando forma e vocabulário próprio;
2a fase - começa em 1790 com a Revolução Francesa. Nesta fase começa a surgir a diferença entre modernismo e modernização. As pessoas vivem numa dicotomia de vida entre os valores da revolução e os valores antigos;
3a fase – começa no século XX o processo de modernização. Há uma expansão a níveis globais da cultura, arte e pensamento.
Berman nos elucida que o primeiro escritor a usar a palavra “moderna’ foi Jean Jacques Rousseau, num de seus romances que conta a história de um jovem que sai do campo para trabalhar na cidade e escreve cartas para seu amor deixado no campo. Nestas cartas conta a “agitação e turbulência, aturdimento psíquico e embriaguez, expansão das possibilidades de experiência e destruição das barreiras morais e dos compromissos pessoais...”, que é a atmosfera da modernidade.
O autor também analisa a modernidade de acordo com a visão de Nietzsche e Marx, apesar de esclarecer que é pouco comum associarem Marx a modernidade, ao passo que Nietzsche é aceito como uma fonte moderna.
De acordo com Berman, Marx queria que as pessoas sentissem o modernismo, para tanto usava figuras como abismos, terremotos, ou seja, queriam com isso passar uma intensidade que está ainda presente na arte de hoje. Marx também analisava a contrariedade da vida moderna, mostrando que apesar dos avanços científicos, industriais e tecnológicos, se agravou a concentração de renda na mão de poucos, a desgraça e a pobreza. Porém ao invés de ver negativamente o processo moderno, Marx mostra uma saída, que é a via operaria, a qual seria capaz de superar as contradições da modernidade, através de uma revolução. Para Berman o Manifesto, escrito por Marx indica como a revolução que destronaria a burguesia é gerada pelos próprios anseios desta mesma classe, ou seja, o maior inimigo do capitalista seria um outro capitalista, já que no afã de monopolizar os bens de produção e concentrar a renda, acabaria destruindo seus iguais, porém a modernidade está em mudança constante, deixando sem resposta o futuro.
Nietzsche também analisa como é contraditória as bases da modernidade, mas uma de suas análises é sobre a vida religiosa, demonstrando que o próprio impulso cristão de busca da verdade acabou por implodir a religião, gerando uma abundância de possibilidades religiosas. Como exemplo de uma obra desse cunho o autor cita Além do Bem e do Mal. Nietzsche levanta problemas, questões que ficam sem resposta. Tal como Marx ele acredita que um novo homem poderá criar novos valores, definindo melhor a sociedade.
Para o autor o modernismo do século XX comparado ao do século XIX, prosperou. As manifestações artísticas e literárias atingiram todas as partes do mundo, porém houve também uma maior separação entre a cultura pátria e a vida pessoal. As próprias manifestações artísticas se tornaram mercadoria, sendo destinadas ao consumo em massa a nível global.
Berman compara os pensadores do século XIX com os do século XX, fazendo uma crítica aos últimos, pois estes vêem a modernidade como algo fechado que não pode ser mudado ou transformado pelo homem moderno. Como exemplo desses pensadores, o autor cita os futuristas italianos. Estes separam a modernidade das “tradições’ anteriores, as quais são chamadas de escravidão, enquanto a modernidade é a liberdade. Eles exaltam o progresso; a máquina, quase transformando o homem num ser puramente racional, sem sentimentos, ou seja, numa maquina. A fábrica seria o lugar aonde se aprenderia o comportamento racional, o controle dos sentimentos, o respeito pelo coletivo, etc. Muitas dessas idéias futuristas foram apropriadas por Mussolini.
Um outro pensador analisado pelo autor é Max Weber. Este pensa o capitalismo através dos aspectos naturais do homem. Berman cita A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo. Para o autor nesta obra Weber demonstra certo ceticismo em relação ao povo, e as classes dominantes para alterar a modernidade. Contudo essa idéia weberiana de povo foi adotada de maneira negativa, por alguns pensadores, tanto de direita como de esquerda, negando completamente a capacidade do povo de se autogovernar, necessitando para este fim de dirigentes, questionando desta forma a democracia.
Nos anos de 1960 houve um crescimento do pensamento em torno do modernismo. O autor define três tendências em relação ao modernismo; modernismo afirmativo, modernismo negativo e modernismo ausente.
O primeiro modernismo parece que “é uma tentativa de libertar os artistas modernos das impurezas e vulgaridades da vida moderna.” No entanto esse modernismo foi criticado, pois não se identificava com os anseios sociais ou mesmo com sentimentos pessoais. Assim no afã de se libertar acabou por se enclausurar. Ao mesmo tempo ocorreu um modernismo revolucionário que veio como combate à tradição, ele negava os valores, mas também não construía nada de novo. Esse modernismo não analisava a força “afirmativa e positiva em relação à vida que nos grandes modernistas vem sempre entrelaçada com a sublevação e a revolta: a alegria erótica, a beleza natural e a ternura humana.” Alguns viam na arte um ideal de sociedade moderna isento de inquietações.
A visão afirmativa do modernismo foi desenvolvida em 1960, ela queria juntar as artes encorajando escritores, pintores, etc a trabalharem juntos, criando novas formas de arte. Eles se designavam pós-modernistas. Porém estes modernistas nunca desenvolveram uma “perspectiva crítica que pudesse esclarecer até que ponto devia caminhar essa abertura para o mundo moderno e, até que ponto o artista moderno tem a obrigação de ver e denunciar os limites dos poderes deste mundo”.
Nos anos 70 houve um acirramento das diferenças, concentrando a sociedade em grupos fechados e isolados, sem que de fato esse isolamento precisasse acontecer. O tema da modernidade pareceu praticamente esquecido, a pós-modernidade surge com mais força.
Bermam mostra em sua obra que o modernismo do passado está presente na nossa forma de pensar hoje, que ele é dialético, autônomo, mutável. Ele nos ajuda a compreender a vida social de hoje e o dinamismo do mundo. Retornar a modernidade de antes pode nos ajudar a criticar a modernidade de hoje, bem como tentar superar seus dilemas.